Viagem a Marrocos
- Carlos Cunha
- Oct 28, 2024
- 6 min read
Updated: Jan 28
Olá caminhantes descalços,
Desde o início foi uma viagem sem plano (como sempre). Era época de Natal e eu estava com minha namorada em Portugal para fugir das temperaturas e da chuva da Holanda (onde trabalho). Queríamos escapar do inverno europeu por um tempo e quase por impulso, compramos os bilhetes para Marraquexe e escolhemos uma casa no Airbnb para apenas 3 noites e assim a viagem começou.
Como disse, nunca planejamos nada, vamos de lugar em lugar sem saber o próximo, é o país e as pessoas que encontramos durante a viagem que definem a rota.

É dia de ir para o Marrocos, acordo bem cedo, a mochila está pronta em modo viagem, apanho o autocarro depois o comboio e estou no aeroporto de Colônia. Com 3h30 de voo, estamos em Marraquexe e o primeiro objetivo é encontrar a casa que reservamos (durante toda a viagem, nunca tivemos internet nos telemoveis, apenas nas casas onde ficávamos e perguntando em lojas ou até mesmo na rua). Obviamente, no aeroporto há muitos táxis mas são caros e não faz parte da nossa forma de nos deslocar, então fomos de autocarro (podes apanhar no parque dos táxis e custa cerca de 3 dirhams).
A chegada à praça central de Marraquexe (Jemaa el-Fnaa) foi impressionante, cheia de pessoas dos mais diversos países, um lugar totalmente voltado ao turismo. Encontrar a casa não foi uma tarefa fácil e as ruas parecendo um labirinto não ajudavam mas conseguimos após pedir internet num talho. Às vezes, os moradores locais tentam ajudar mas alguns deles querem dinheiro no final, antes de aceitar ajuda, tenta perceber que tipo de ajuda é.
Ficamos numa parte pobre da cidade (mais barata), mas com uma localização muito boa e embora a casa não tivesse internet, pudemos aproveitar um terraço onde tivemos pequenos almoços incríveis (tentamos alugar sempre uma casa ou lugares para ficar com espaço ao ar livre).
Com a casa apresentada, saímos descalços ( andamos sempre descalços) para comer algo e comprar comida básica para ter em casa (aconselho ir a lojas tradicionais e não ao supermercado, pois são muito mais baratas). Como podes imaginar, todas ou a maioria das pessoas olhavam para os nossos pés e depois para nós com espanto e alguns até faziam comentários mas depois isso faz parte do dia a dia e o importante é a tua liberdade e bem-estar.

Marraquexe surpreendeu pela positiva mas também pela negativa. Segue o blog para ler o artigo Marraquexe, Cidade de 2 Faces.
Após 3 dias em Marraquexe, queríamos ir à praia e tentar surfar. As grandes cidades (Agadir e Casablanca) não eram nossa opção, precisávamos da autenticidade de Marrocos e das pessoas que vivem lá. Decidimos ir para Mirleft, eu nunca tinha ouvido falar deste lugar mas encontramos uma casa boa e barata e fomos para lá.
A nossa ideia era apanhar uma boleia até Agadir e depois tentar chegar a Mirleft de alguma forma. Acontece que na manhã seguinte era o dia de ir para Mirleft e eu acordei com dor de dentes. Que lugar lindo para ter dor de dentes! A dor foi ficando mais forte e só me restou a opção de ir ao dentista e rezar para que ele aliviasse a dor. E assim foi, procurei um dentista no Google Maps e fui ao mais próximo, que ainda ficava a 4 km de distância. Chegando lá, a recepcionista disse que só atendiam com marcação, eu praticamente implorei e consegui que vissem o meu dente e finalmente fiquei sem dor. Obrigado, Dr. Younes Chad.
Depois de resolver o problema do dente, escrevemos AGADIR num papel e fomos para uma rua que parecia boa para pedir boleia. Alguns carros pararam, mas ou queriam que pagássemos ou não iam para Agadir. O dia estava quente e depois de tentar bastante desistimos porque já estava a ficar tarde. Tentamos ir de comboio, mas chegando à estação, imagina, não havia comboios. Então ficamos sem maneira de ir e sem lugar para ficar (em Marraquexe). Nessas horas, a aventura começa e eu sinto-me à vontade com isso. Tínhamos uma app de boleias e tentamos a nossa sorte. Depois de negociar o preço e conseguir uma boleia, tivemos um problema, só tínhamos internet na estação de Comboios e não podíamos ir a outro lugar porque era impossível encontrar a boleia. E, para ajudar na situação, o motorista falava francês (nós não entendemos francês).
O telefone tocou, era a pessoa que no ía dar boleia. Atendi, mas não entendi o que ele me queria dizer, só entendi "frente da estação". Bem, fomos para a frente da estação sem saber se deveríamos ir para lá, não sabíamos de nada, até que depois de 5 ou 10 minutos, um homem veio perguntar se queríamos ir para Agadir (em francês, lembra-te) e assim encontramos a boleia para Agadir (pagamos 300 dirhams para 2 pessoas).
Não foi possível chegar a Mirleft naquele dia porque já era tarde, ficamos uma noite em Agadir com o objetivo de ir para Mirleft na manhã seguinte.
Na manhã seguinte, tentamos, claro, a app, mas os preços que pediam eram muito caros, então pedimos ajuda a Claire (Claire, francesa e seu marido, marroquino, têm uma pousada em Mirleft), que nos receberia em sua casa em Mirleft (sigue o blog e lê o artigo onde ela fala sobre a cidade onde mora, Mirleft). Ela enviou a localização da estação da camionetas onde poderíamos comprar os bilhetes para Mirleft. Chegamos à estação às 11h e o próximo autocarro era às 18h15, mas não tínhamos escolha. Fizemos de uma mesa de café nosso escritório e trabalhamos lá até apanhar o autocaro e finalmente fomos para Mirleft.
A viajem foi tranquila e chegamos bem à noite em Mirleft. Pedimos internet, dessa vez numa loja que vendia bolos e encontramos a Claire facilmente . Passamos dias bons e relaxantes lá, sempre com o mar como banda sonora.
Depois de Mirleft, não sabíamos para onde ir. Pedimos a opinião á Claire e ela sugeriu Taroudant e Tafraout. Taroudant pareceu-nos uma cidade e queríamos natureza no meio do nada, então decidimos ir para Tafraout.
Não tínhamos ideia de como chegar lá. Encontramos uma camioneta de Tiznit para Tafraout mas de Mirleft para Tiznit não sabíamos como ir. Saímos para perguntar e foi fácil encontrar alguém que nos informasse como e onde apanhar o autocarro para Tiznit.

Saímos de casa na manhã seguinte com nossas mochilas com a missão de pegar dois autocarros: de Mirleft para Tiznit e depois de Tiznit para Tafraout. No caminho para Tafraout, já era noite e não deu para ver quase nada, mas percebi que era um lugar especial, com ruas estreitas (não sei como o autocarro passava), montanhas e pedras intermináveis. Chegamos, fomos diretos comprar comida porque estávamos com fome e depois para a casa (foi fácil encontrar).
Os dias seguintes foram para explorar sem saber para onde ir, apenas andando pela "cidade", que nem era uma cidade, era mais um lugar no meio das montanhas (segue o blog e lê o artigo sobre Tafraout, lugar incrível).
Depois de alguns dias bem aproveitados em Tafraout, queríamos voltar para Marraquexe para relaxar e trabalhar perto do aeroporto. Para isso, tínhamos 8 horas de viagem de autocarro pela frente e depois uma caminhada de 6 km até a casa. Chegamos exaustos, queríamos comer e descansar, foi complicado encontrar a casa e esse foi um dos momentos mais difíceis da viagem, mas tudo se resolveu, conseguimos ir para a casa e depois comer.
Os próximos dois dias foram muito agradáveis. Voltamos à praça central de Marrakech (Jemaa el-Fnaa), despedimo-nos do nosso amigo Hassan (um comerciante), com a sensação de uma viagem incrível depois de todos os lugares por onde passamos, as pessoas que conhecemos e os lugares sempre estarão lá com suas peculiaridades para os próximos viajantes. Tu podes ser um deles.
Não esperes pelo momento perfeito para fazer a tua viajem, escolhe onde queres começar e depois deixa-te surpreender.
Se tiveres dúvidas, algum conselho ou apenas quiseres dizer olá, manda uma mensagem.
Durante esta viajem:
Caminhamos cerca de 100 km descalços;
3 horas de boleia;
15 horas de autocarro.
Não te esqueças:
Se fores lá,
Carlos
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